terça-feira, 19 de maio de 2009

Graças ao Hermes

Gostaria de falar do Cruéis Tentadores a partir de seu desejo de conexão, em primeiro lugar porque ele se configura como um coletivo artístico, sempre buscando interagir com diversas linguagens. Depois, posso falar de seu propósito final explícito que é de sempre mostrar a obra inacabada, imperfeita diante do público e dos próprios artistas, mantendo o proceso contínuo como parte primordial da arte que se pretende viva e dinâmica.
Entendemos que, culturalmente, vivemos um período de fragmentação e experimentação muito fortes. O indivíduo, ao mesmo tempo que quer definir sua identidade também necessita da tensão com o outro, desta provocação, mesmo cruel, como meio de participação mais integral do contexto obra, do sistema produtivo e subjetivo que ela carrega.

Há uma forte negação a isto inicialmente, porém, com uma qualidade de abordagem onde o outro é convidado, ou melhor, convocado a redefinir o caos junto ao produto artístico, percebemos pela prática que o público é sedento e não sedentário.

Partindo da premissa de que tudo é fenômeno, acontecimento, que depende da percepção para definir se vai ou não vai, do ponto de vista de cada um que escolheu este "espaço arranjado para o olhar"- pois é mais ou menos isso que diz a etimologia - temos que nos abrir ao impalpável, às avaliações variáveis, por isso também a idéia de que cada um no coletivo é parte também autônoma de uma tendência em definição ou não.

Assim como na dramaturgia, o processo criativo teatral é uma trama, as vezes absurda, quase ficcional enquanto história que tentamos reter dentro do nosso campo confortável de exposição, a história que podemos contar para os outros do que fomos naquele momento efêmero. Mas, como disse, ele acontece, se materializa e já não importa a arrumação, dimensão, o ponto, o nó. Eles estão, mas não são mais fortes que a sensação de desejo, a tentação de fazer a mesma crueldade de novo, senão o próximo insight paralisa, a relação enquanto fenômeno se esgota. A instabilidade nos ajuda a ir em frente, criando nosso território teatral quando o tempo passa.

"Já vimos suas misérias, contradições, e seria possível insistir ainda sobre suas pretensões frequentes a uma "objetividade" interpretativa, a uma "verdade". Mas, múltiplo em seus sentidos, o objeto artístico mantém uma relação tão complexa com a cultura que se mostra inesgotável e inapreensível. Quer queiram, que não, os textos são sempre "incidentais": iluminam certos aspectos, chamam a atenção para outros, constroem relações ligando obras entre si, ou à história, à sociologia, à psicologia, à filosofia; mais tais análises são sempre parciais, porque a obra acaba sempre escapando ao desvendamento total" Jorge Coli - O que é Arte

Continuemos muchachos!!!!!!!!

tc

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