sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Minha Cecília



É preciso não esquecer nada:
nem a torneira aberta nem o fogo aceso,
nem o sorriso para os infelizes
nem a oração de cada instante.

É preciso não esquecer de ver
a nova borboleta nem o céu de sempre.

O que é preciso é esquecer o nosso rosto,
o nosso nome, o som da nossa voz,
o ritmo do nosso pulso.

O que é preciso esquecer
é o dia carregado de atos,
a idéia de recompensa e de glória.

O que é preciso
é ser como se já não fôssemos,
vigiados pelos próprios olhos severos conosco,
pois o resto não nos pertence.

(1962)

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