quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Mais depoimentos sobre o trabalho

Leonardo Luz........................




Como é para vc fazer parte do Cruéis Tentadores?


É como estar no “olho do furacão”(rsrsrsr). Bricadeiras à parte, talvez seja esta uma boa metáfora, pois seria este contraditório lugar de calma e silencio, núcleo causador de transformações irreparáveis numa convulsão de acontecimentos velozes, extraordinários e por vezes temerosos, nas pessoas e no seu entorno, uma força da natureza. O Coletivo Cruéis Tentadores me proporcionou o encontro com uma nova construção estética da cena, do personagem, da narrativa....(Por aí vai!)
O Sentido libertário da condução dos trabalhos, as múltiplas facetas dos interpretes, a heterogeneidade geral, o caos emergente, tudo isso se transformou em elemento obrigatório na metodologia das montagens ali desenvolvidas, e isso transformou aquele ambiente numa espécie de “câmara catártica” onde os meus sentidos aflorados, de intérprete, poderiam caminhar por onde precisassem. É para mim, um núcleo de desenvolvimento artístico sem precedentes, não só pelas inúmeras linguagens implicadas, mas pela necessidade do desenvolvimento de uma certa autonomia na solução de problemas, que muitas vezes foram gerados na montagem, para serem resolvidos em cena. Também preciso falar da transgressão como uma forma de acordo tácito, não explícito, mas silenciosamente praticado por todos os envolvidos, chocando, contaminando ou repelindo os recém chegados, lidando sem fronteiras com o belo e grotesco, revelando segredos, explorando sensações obscuras, sendo cênico na vida e vivendo intensamente a cena. Cruel e tentador.

Como vc vê a relação do intérprete com a obra?
Incondicionalmente intensa. Não há como “passar batido” nas montagens desse núcleo. Não só pelo teor das cenas, mas pelas exigências que a obra nos faz, físicas, sensoriais e emocionais. É claro que não poderei responder isso pelos meus colegas, mas, sinto que na materialização das cenas e ambientes absurdos com os quais lidamos, há uma espécie de “empoderamento” sobre a cena e sobre a obra, a ponto de nos sentirmos a vontade o suficiente para subverte-la, recria-la, senti-la viva. Mergulhar no universo da obra torna-se praticamente obrigatório para se estar ali, ao mesmo tempo em que desenvolve um sentido de responsabilidade e proteção. É complexo!

Alguma coisa mudou na sua relação com a cena?
Sim. Creio que minha postura em cena se tornou menos formal,e que a necessidade de marcações absolutamente precisas para cena também diminuiu, para isso tive que aumentar o meu grau de concentração no ambiente da cena, para poder lidar com as muitas coisas que aconteciam simultaneamente, assim como interagir com o inusitado, sempre presente em nossas apresentações. Sinto que me tornei também um pouco mais contundente na interação com a platéia, e um pouco mais cúmplice dos meus colegas de cena.

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